Shin Chan e a Censura do Ânus – Artigo de Opinião



Nos últimos tempos a animação japonesa tem sido objeto de atenção e censura por parte da comunidade e media. Isto porque, aparentemente, descobriram que os adultos de agora assistiram, em criança, a “desenhos animados” tão complexos que podem ferir as susceptibilidades das crianças de hoje em dia. Atualmente, para esta geração, só podem ser transmitidas séries com selo Disney e desenhos animados sem essa coisa da homossexualidade (contexto aqui). Porque, obviamente, num país livre de preconceitos isso não pode ser transmitido às crianças desde tenra idade, não vão elas pensar que isso é normal…

Desta vez, o tema de discórdia – e julgamentos a rivalizar com as Bruxas de Salém – foi o nosso amigo Shin Chan! Não é que o endiabrado rapaz começou a causar o terror não só aos seus pais e professora, como também aos pais espalhados por este pequeno país?

Contextualizando, o Jornal Público lançou uma notícia sobre um conjunto de queixas provenientes do episódio da série transmitido no Canal Biggs, no dia 27 de novembro. Nesse episódio, Shin Chan encontra-se a fazer as suas travessuras, vulgo mostrar os seus genitais com destaque no rabinho, no hospital. Isto vem no CONTEXTO do seu pai ter sido submetido a uma cirurgia às hemorróidas. Como explica o artigo, as enfermeiras de forma a “castigar” o travesso Shin Chan decidem avaliar o ânus do rapaz, uma experiência nada agradável mas que serviu para que este se acalmasse de imediato, compreendendo a seriedade da situação.



Muitas foram as queixas, algumas assinadas por instituições, contra este episódio referindo que poderia remeter para atos de pedofilia ou de pornografia. Pediram ainda o cancelamento da série ou transmissão para um canal de adultos. Como resultado, a série passará a ser transmitida após as 22h30.

Shin Chan e a censura do ânus – Artigo de Opinião

Polémica ou não, aqui vai a minha opinião! E antes que atirem as primeiras pedras, reforço que se trata apenas da opinião de como desenhar mangá para iniciantes por um alguém que acredita ter um voto na matéria, alguém que assistiu enquanto criança aos tão malfadados “desenhos animados japoneses“, entre eles Shin Chan.



É verdade, nasci no início da década de 90 e não possuo qualquer distúrbio psicológico e, vos garanto, que os meus traumas não advêm de qualquer tipo de cu, pénis, chacinas sangrentas ou atos lésbicos que vi enquanto criança através dos desenhos animados. Amigos, um segredo: a maioria dos traumas advêm da interação com pessoas, esses seres horrendos e que não medem a meios para alcançar os seus fins.



Consequências de assistir desenhos animados japoneses sem grande censura e que, claramente, alguns não eram para a minha idade na altura:

sou uma mulher saudável psicologicamente, dentro dos standards da sociedade sou considerada um cidadão comum;
os meus amigos, exatamente da mesma década, são saudáveis e bons rapazes/raparigas – mais íntegros e bem educados do que alguma vez qualquer uma dessas criancinhas, que berra em plenos pulmões nos supermercados a fazer birra porque a mãe não lhe quer dar o seu 10º brinquedo da tarde, poderá alguma vez ser.
Estamos portanto num contrassenso já criticado e quase que comprovado empiricamente (vamos dar 10 anos para soltar o derradeiro “Eu avisei”): Shin-chan vai prejudicar o psique das crianças porque mostra o rabinho e num episódio apareceram enfermeiras a praticar um toque rectal nada prazeroso para o rapaz?

(Antes demais, não não sou psicóloga, mas irei usar os conhecimentos que adquiri enquanto desenvolvia a minha tese de mestrado que aborda a programação infantil e a sua influência nas crianças)

Vamos lá ver uma coisa, segundo Bronfenbrenner, as crianças são afetadas diretamente pelo microssistema envolvente – estando nele contido A FAMÍLIA – sendo que a televisão não faz parte do agregado familiar, como acredito que muitos pensem. Esta é apenas um acessório de transmissão de media, portanto é algo que está no EXOSSISTEMA (Exo = fora -> fica a dica), logo o impacto que a televisão poderá ter nas crianças está intimamente ligado à educação que os pais ou encarregados de educação lhes fornecem (às crianças, não à televisão).

Pais e encarregados de educação, o vosso papel é educar os VOSSOS FILHOS, não a televisão e o que esta transmite – apesar de ter vontade de fazer isso às vezes, admito – Querem se queixar? Querem opinar? Acho muito bem! Venham as opiniões CONSTRUTIVAS, e com CONHECIMENTO. Porque ofenderem um desenho animado com base na interpretação de uma cena, categorizando-o como pérfido, como só mentes adultas deturpadas pelo mundo conseguem ver malícia, isso não é opinar. Isso é, à bom português, “mandar a posta ao ar”.


As crianças não vêem o mundo da mesma forma que nós adultos o vemos. E ainda bem que assim o é! Como tal, precisam de nós, adultos conscientes e informados, para os esclarecer, para lhes explicar o que é certo e errado. Shin Chan é um menino mal comportado, a representação de um exemplo a não seguir, e é exatamente neste sentido que os pais o poderiam aproveitar.

Não, não acho que seja o anime ideal para uma criança com menos de 5 anos, na minha opinião trata-se de uma obra excelente para ver em família e dar umas boas gargalhadas, sozinhos, nem tanto!

As crianças têm a tendência de reproduzir o que vêem, mas há crianças e crianças! Segundo um artigo científico chamado Born to Learn, as crianças em idade pré-escolar tendem de facto a imitar o que vêem na televisão, sobretudo em termos de linguagem e gestos. Contudo, no que diz respeito às crianças em idade escolar a questão é bastante mais complexa e não linear. Mas agora vos pergunto, o que é melhor?



Um desenho animado cujo protagonista é um menino muito mal comportado, que faz traquinices e é a dor de cabeça  dos que o rodeiam?
Uma novela onde se vê mortes, gritos, pessoas a serem corruptas e mal formadas umas com as outras?
Ou novelas para adolescentes transmitida no mesmo canal que criticam por passar um desenho animado humorístico?



Pois… Lembrem-se da novela da noite ou da programação televisiva em horário da tarde, quando começarem a “pensar” em criticar séries animadas. Certifiquem-se que quando estão a “pensar” nisso, não estão a ver a novela com os vossos filhos ao lado.

Eu não sou mãe, mas o não ser não faz de mim ignorante ou menos protetora dos que me rodeiam. Tenho família, tenho crianças e bebés que pretendo cuidar e ajudar na sua educação da melhor forma que sei e consigo fazer.

Não é fácil educar, que fará educar uma criança nesta merda de sociedade materialista em que vivemos. Todos queremos o melhor, fazer o melhor, mas estaremos nós a fazer o melhor ao proteger em demasia? A evitar que se questionem, que errem, que vejam o certo e o errado desde pequenos? Que vejam a diferença e a encarem como algo “normal”?




Vamos deixar as crianças serem crianças! Vamos tentar educá-las com conhecimento de causa e sem a azáfama aterrorizadora de que vamos estar a criar crianças traumatizadas ou irresponsáveis porque viram na televisão algo que “não é correto”.

Fonte: https://ptanime.com

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